Josh Wander, sócio da 777 Partners, diz: “Nosso objetivo é tornar o Vasco uma superpotência global”

Josh Wander, sócio-fundador da 777 Partners, não acreditaria se alguém lhe contasse, vinte anos atrás, que ele administraria clubes de futebol pelo mundo. Para começar porque, bem, sua paixão não era exatamente o “soccer” – jeito peculiar que americanos usam para denominar o esporte mais popular do planeta. Ele preferia o futebol de bola oval – era presença constante nos jogos do Miami Dolphins.
Hoje, o investidor está à frente de uma multinacional ainda em formação. Na Itália, a 777 é proprietária do Genoa. Na Espanha, a empresa possui uma participação de 15% sobre o Sevilla. E agora, no Brasil, o grupo avança para comprar o controle do clube-empresa que o Vasco abrirá.
Na tarde desta terça-feira, um dia após assinar pré-acordo com o presidente vascaíno, Jorge Salgado, Josh concedeu sua primeira entrevista a um veículo brasileiro. O investidor conversou com o ge, de dentro de seu escritório, em um arranha-céu de Miami, por cerca de 40 minutos.
A intenção da 777 é tornar o Vasco uma superpotência global. Global, aliás, é uma palavra que ele repete com frequência. Tanto para se referir ao clube carioca, quanto para tratar de uma futura liga de clubes do futebol brasileiro. Esses aspectos são essenciais para que a companhia obtenha o retorno que espera sobre o investimento.
– Primeiramente, obrigado por falar conosco. Minha primeira pergunta é: como você escolheu o Vasco para investir? O que te interessou no Vasco?
– Para começar, quero dizer como estamos incrivelmente empolgados de fazer parte do Vasco da Gama e sua rica história. Sou um fã de esportes desde que nasci e mais recentemente me tornei um grande fã de “soccer”, ou football, como é chamado em algumas partes do mundo. O entusiasmo dos torcedores brasileiros, a história do futebol no Brasil me empolga pessoalmente como fã. A possibilidade de ver o futebol ser jogado onde ele foi feito para ser jogado.
– Sobre o Vasco, eu acho que, como em todo investimento que analisamos, estamos procurando fatores que nos façam acreditar que haverá valorização desse ativo ao longo do tempo. O Vasco está na segunda maior cidade do Brasil, no quinto maior país do mundo. Há uma população enorme, que podemos comercializar. Nossa visão é que, antes de tudo, queremos comprar clubes que achamos que tenham cenários econômicos que fazem sentido. Que possam ser bem-sucedidos comercialmente, dentro do possível. Ter uma população grande, em países com uma rica história no futebol, tradição, com uma grande conexão com seus torcedores, é muito importante para nós.
– Antes de tudo, nós observamos o Vasco como um clube histórico, que está numa cidade muito populosa. Antes de entrar em mais detalhes, achamos que essa é uma oportunidade muito interessante, num país com grande crescimento populacional, numa indústria que nos últimos anos viveu problemas por causa da Covid.
– A mudança da lei no Brasil permitiu a entrada de investidores estrangeiros. Investir num clube histórico é empolgante para nós. Quando você começa a entrar em detalhes, você percebe que o Vasco tem uma história incrível de derrubar barreiras sociais e raciais. 25 anos antes de o Jackie Robinson se tornar o primeiro negro na Major League Baseball e da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, o Vasco já era um defensor destemido dos direitos humanos, da diversidade e da inclusão. Isso nos empolga, queremos nos envolver em negócios nos quais possamos ir bem e fazer o bem. E o Vasco claramente está na vanguarda dessa área nos esportes. O componente ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) nos animou. E queremos continuar essa tradição no Vasco.
– Como terceiro ponto, nós acreditamos que o Brasil, e o Rio em particular, é um dos melhores, se não o melhor, local do mundo de captação de talentos futebolísticos. A possibilidade de ter acesso a esse talento, de ajudar a cultivá-lo e finalmente de vê-lo florescer no Vasco ou em outros clubes pelo mundo é animadora. Adoramos a ideia de trabalhar com pessoas que sejam as mais talentosas no que elas fazem, e a base de talentos no Brasil é animadora para a 777.
– Quando vocês estavam considerando as possibilidades no Brasil, analisando o mercado, vocês consideraram outro clube sem ser o Vasco? Como foi o processo para encontrar o clube?
– Nós analisamos o mercado, claro, como faríamos em qualquer negócio, e olhamos quais eram as opções. Não havia tantas opções ainda, porque, para ser uma opção, o clube tem que tomar a decisão de virar SAF. Olhamos alguns clubes antes do Vasco, mas acho que chegamos ao Vasco pelas razões que eu acabei de descrever. Acho que a razão principal, o diferencial na nossa perspectiva, foi a história, a tradição, o legado que o Vasco tem não só dentro do campo, mas também fora.
– De novo me antecipando um pouco, vocês são uma empresa que investe em equity. Quero dizer, vocês pegam uma companhia, investem, compram uma parte minoritária ou majoritária, melhoram a administração, dão valor para essa companhia e um dia vocês vão vender essa empresa, porque na verdade é o seu negócio. Quando se fala do Vasco, isso pode acontecer. E você já nos falou sobre a visão de longo prazo. O que é longo prazo? Vocês pretendem revender o Vasco para outro dono em cinco anos? Dez anos? 50 anos?
– A 777 é uma companhia multinacional, não é um fundo. Nós não temos terceiros como financiadores, que requerem que vendamos algo em um período específico. Somos apenas eu e meu sócio, Steven Pasko, e nós temos um olhar de longo prazo para todos os investimentos que fazemos. Então não compramos um negócio pra vendê-lo. Você está certo que o propósito do nosso negócio é ter lucro, e algumas vezes para ter lucro você tem que vender alguma coisa, mas isso não significa que vamos vender. Só significa que, com o tempo, se alguma coisa for boa, é possível que venda, ou que gere lucro por meio de dividendos.
– Acho que o mais importante a saber é que nós queremos construir o máximo de valor que for possível no Vasco. E, se em algum momento alguém aparecer e nos oferecer algo que a gente ache que faz sentido, ou que é maior do que o valor que estimamos, é claro que vamos conversar. Seria desonesto dizer que, se alguém nos oferecesse uma quantia maluca de dinheiro por algo que nós possuímos, que não venderíamos, porque esse é o propósito do que fazemos. Mas esse não é nosso plano. Nosso plano é comprar um negócio e dar o máximo de valor a esse negócio enquanto formos os donos. É isso que pretendemos fazer e eu te diria que, ao longo dos últimos seis anos, a 777 está em negócios e ainda não vendemos nenhum. Nós temos cerca de 50 deles. Nós não queremos vender num futuro próximo.
– É seguro dizer que vocês acreditam que o Vasco possa gerar lucros sem que vocês precisem vendê-lo?
– Sim. Nosso objetivo é construir um negócio que possa gerar lucros. E esse deveria ser o objetivo de qualquer negócio. Só recentemente que o valor de clubes de futebol pelo mundo, relativamente, se valorizou do jeito que valorizaram. Todos os negócios buscam lucro, e essa seria nossa meta no Vasco.
– Você tem uma mensagem final para os torcedores do Vasco?
Acreditem em nós. Acreditem em nós.
GE